segunda-feira, 17 de outubro de 2011

“Vende-se um sofa bicama”

Quando eu tinha doze anos
Queria me chamar Patricia
E vivia naquele mundo
Que a gente cria pra gente
Quando comeca a crescer

E pra entrar naquele mundo
Era so fechar a porta
E ficar so no meu quarto
Em meio aos contos de fada
E o po dos livros ja lidos

Em cima da cama estavam
As bonecas e almofadas
Que eu tinha ganhado da tia
Como o tapete e o lustre
E ate a colcha cor-de-rosa

Na cama eu nunca sentava
Nao queria amarrotar
O meu sonho de crianca...
Os moveis, bonecas, tudo,
Tudo ficava impecavel.

No outro canto da quarto
Ficava o sofa-bicama
Que sobrava na mobilia
- Unico sobrevivente
Da infancia noutra casa.

Mas era nesse sofa
em vermelho e xadrez preto
Que eu deitava todas tardes
Sempre com um livro nas maos
E comecava a sonhar...

Mergulhava nas historias
Povoanto o teto branco
De mil sonhos e suspiros,
De cenarios coloridos,
De mil romances de amor.

Era ali que eu criava
Ilusoes da puberdade
Contava no dedo os anos
Que faltavam pros dezoito
Quando eu sairia de casa...

Ia trabalhar num jornal,
Estudar na faculdade,
E teria um namorado
Que viria me buscar
As onze horas da noite

Sonhava que iria ser
Uma escritora famosa
Dedicada ao meu trabalho
Que me realizaria
Eu seria tao feliz!!!

Deitada no meu sofa
Sonhava o primeiro beijo...
E as vezes me angustiava
Pensar como tardaria
- anos – ate que eu casasse...

Nao tanto pelo casamento
Porque esse desde cedo
Deixara de me seduzir
Mas por que eu tinha vontade
De estar junto de um homem...
                                                 
De beija-lo e abraca-lo
E fazer amor com ele
Ter que esperar tantos anos...
Isso me exasperava
A solucao? Casamento...

Mas o tempo foi passando
E com ele minhas ideias
Aos poucos se transformando
Os sonhos foram mudando
Foram caindo por terra

A fantasia do beijo
Logo se quebrou em lagrimas...
Sair de casa aos dezoito
E morar com minhas primas
Se tornou impraticavel...

 O emprego no jornal?
Ah que ilusao infantil!
Sem nenhuma experiencia
Sem estar na faculdade
Como eh que vou conseguir?

Ficou porem a vontade
De me tornar escritora
De ter um amor na vida
Mas que amor diferente
Daquele sonhado aos doze!

Beijos e abracos ja tenho,
Mas amor eh outra coisa
Mas amor eh diferente
Eh compreener, perdoar
Mesmo antes de ter pecado...

Minha angustia de casar
Hoje vejo que era tola.
O acaso nos surpreende...
Fazer amor so amando
E isso com  tempo vem.

Minhas bonecas se foram,
A colcha, o lustre, almofadas...
O tapete de croche,
Ate a cama da infancia
E a casinha da Susi...

Mas quando entro no meu quarto
Tem algo que me desgosta...
Um dia desses vou por
Um anuncio no jornal:
“Vende-se um sofa bicama”

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